#ELENÃO: como é possível lidar com quem apoia ódio e preconceito?

A temporada de eleições presidenciais traz à tona um desejo nobre e ao mesmo tempo ácido: transformar o Brasil em um país mais próspero, pacífico, seguro e tolerante. Essa caminhada pode ser mais pesada e infeliz quando você decide expor ou discutir opiniões políticas na timeline das redes sociais.
Há quem justifique o próprio voto por religião, preferências pessoais, propostas de governo, partidarismo, escolhas familiares, protesto, falta de opção, histórico ou favoritismo. Seja qual for o critério de escolha, o que sempre esteve em jogo eram decisões políticas que impactam direita e esquerda.
As eleições de 2018 ganharam uma pitada de perversidade com um candidato que incentiva violência, tortura, racismo, homofobia e machismo, tudo por meio de um discurso que transborda ódio e preconceito.
Mesmo tendo aprendido que “política e religião não se discute”, neste ano muitos de nós nos sentimos na obrigação de entrar em resistência com quem apoia irresponsavelmente um candidato assim.
Quando você vota em alguém que diz
“Mulheres devem ganhar menos que homens porque engravidam”
“Filho gay é falta de porrada”
“Eu não corro o risco de ter uma nora negra porque meus filhos foram bem educados”
“O erro da ditadura foi torturar ao invés de matar”
“Eu só não te estupro porque você não merece”
você apoia machismo, violência contra a mulher, homofobia, racismo, preconceito e crueldade. Essa é uma questão moral ou de opinião política?
Opinião política é ser a favor ou contra um impeachment, votar em um candidato que prefere investir em programas sociais ao invés da saúde pública, reeleger aquele que acredita que a educação básica precisa ser mudada, ser contra ou a favor da mudança das leis trabalhistas ou acreditar que a gestão dos recursos de água são bem geridos mesmo quando se sofre com o racionamento deles.
Apoiar a violência contra a mulher é ignorar que, em média, 135 mulheres são estupradas no Brasil por dia¹. É aplaudir o fato do Brasil ser o país que mais mata LGBTs no mundo, sendo 1 a cada 19 horas². É consentir que a população negra corresponda à maioria dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios no país³.
Devemos ser democráticos e respeitosos com opiniões contrárias sempre, mas o que está em jogo são questões morais. Ali, na urna, o eleitor do candidato desumano validará todo seu discurso inconsequente. É como se dissesse a ele: “vá em frente, concordamos contigo”.
É desse jeito, com o voto, que em 2018 podemos efetivamente combater preconceito, violência, ódio e intolerância.
Independentemente da sua orientação política, o meu questionamento é: você concorda com racismo, estupro, violência em todas as vertentes, preconceito e intolerância? Você seria amigo de alguém que apoia tais conceitos? Você convidaria alguém com essa moral para frequentar um churrasco na sua casa?
Eu com certeza não. É justamente por isso que tem sido tão desafiador conviver com amigos e conhecidos tão cheios de ideais subversivos. O mais difícil é que ainda não aprendi a lidar com quem apoia ódio e preconceito.
Minhas amizades e relacionamentos não estão acabando por causa de política, mas por uma questão de moral, humanidade e respeito.
Se você também não convidaria alguém assim para frequentar sua casa, como podemos elegê-lo para nos representar e reger nosso país?
Eu reafirmo: não é apenas a política que está em jogo e sim a moral, respeito e humanidade.
¹ Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
² Dados do Relatório do Grupo Gay da Bahia, (GGB), entidade que levanta dados sobre assassinatos da população LGBT no Brasil há 38 anos.
³ Dados do Atlas da Violência de 2017