Marcas devem se posicionar politicamente?

Thamiris Rezende
4 min readJan 7, 2019

A faixa presidencial trocou de peito e deu início a um novo mandato que promete dar o que falar nos próximos 4 anos. Na contramão dos protocolos, o atual presidente polemiza com seus discursos ao tratar assuntos tabus da sociedade. Além disso, tem se provado um grande desafio à imprensa, já que estabelece uma conexão direta com seu eleitorado por meio das redes sociais e ignora o papel dos veículos de comunicação.

A razão pela qual o atual presidente polarizou o país tem pouca relevância nesse papo, já as consequências disso têm afetado diretamente marcas de todos os segmentos e tamanhos.

Geralmente, marcas recuam diante de assuntos polêmicos, mesmo que exista alguma possibilidade de parecerem alienadas aos olhos dos consumidores. Mas o que fazer se o interesse e engajamento pelo tema aumentam a cada dia? O que fazer ao ter a marca confrontada pelos consumidores sobre uma opinião ou posicionamento político?

Ao que tudo indica, a era do “política não se discute” está caminhando para o fim, visto que um estudo do Centro de Ciências Humanas Sociais e Aplicadas da Unicamp aponta que o Brasil é um dos países que mais produzem memes políticos.

Posicionar-se politicamente ou não? Eis a questão.

Ao contrário do que normalmente se pensa, não manifestar um discurso é também uma forma de posicionamento. Assumir por premissa que os consumidores vão ignorar o silêncio de uma marca diante de assuntos polêmicos é dar um tiro no pé, afinal não podemos ignorar a capacidade de julgamento dos consumidores diante de uma marca no mercado.

Por outro lado, há batalhas que marcas não precisam enfrentar, e fazer essa escolha não as coloca frente a frente com a crise de imagem e credibilidade. Muito pelo contrário, estratégia também é saber quando emitir uma opinião ou abster-se.

Então, o que fazer quando se está entre a cruz e a espada? Para pensarmos nas alternativas podemos aprender com as experiências de outras marcas.

Durante a corrida eleitoral a Victor Vicenzza, grife de botas slow fashion, adotou um discurso sólido em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro após ter o contrato de parceria rompido com a cantora Pabllo Vittar. Diante da repercussão do rompimento com a cantora por divergências ideológicas, a marca aproveitou e transformou o posicionamento político em produto, o que rendeu em um número significativo de seguidores e engajamento nas redes sociais

Do outro lado da polarização política, a Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do time de futebol Sport Club Corinthians Paulista, emitiu um comunicado oficial alegando que “foi misturando política e torcida que, em 1969, alguns jovens corintianos fundaram o que viria a se tornar a maior torcida organizada do país, os Gaviões da Fiel. Em uma época marcada pela fortíssima repressão da Ditadura Militar, aqueles torcedores decidiram unir-se para lutar contra Wadih Helu, então presidente do Corinthians e também político do regime”. Portanto, a torcida que nasceu da resistência ao regime militar vigente em 69 decidiu que não podia apoiar um candidato antidemocrático em 2018.

Outro recente exemplo é o posicionamento das marcas diante de uma fala da atual Ministra do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, sobre “meninos usam azul e meninas usam rosa”. A declaração da ministra foi interpretada pela população como um ataque à ideologia de gênero e marcas como a Trident não deixaram escapar a oportunidade de se colocar a favor dos próprios valores.

Então, como tomo uma decisão?

  1. A decisão deve ser de cunho estratégico e não emocional.
  2. Ao estudar os possíveis caminhos a serem tomados volte à identidade organizacional e interprete se a decisão está em sinergia com a missão, visão e valores da marca. Aqui falo mais sobre isso
  3. Analise minuciosamente as possíveis interpretações do discurso da marca, ou seja, preveja as crises.
  4. Esteja preparado para dialogar de forma respeitosa e democrática com o público nas redes sociais.
  5. Peça apoio de seus parceiros formadores de opinião.
  6. Essa é uma decisão estratégica que deve ser tomada por quem entende de branding e comunicação. Não faça isso sozinho se não se sentir confortável.

Para as micro e pequenas empresas, um deslize pode ser fatal e arruinar todo o trabalho de construção de marca.

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Written by Thamiris Rezende

Jornalista que transforma em palavras tudo o que passa dentro do coração ❤. Eupreendedora na @hugcomunicacao . Produtora de conteúdo no @foradosrotulos

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